Da
minha varanda eu vejo tudo aquilo que passa, que se desfaz e se remonta
a cada passo que um desconhecido do outro lado da rua dá. Eu consigo
sentir a vibração de seus pés e as marteladas da obra do vizinho. Já
passou das 4 e eu ainda estou viva, eu não sirvo nem pra isso. Eu
queria, eu queria muito acabar com tudo isso, todo esse rancor, amargura
de meus familiares dizendo que eu nunca crescerei na vida, que nunca
poderei evoluir, que sempre serei isso, esse bichinho de pé que não pode
seguir em frente sem precisar do empurrão deles. Eu tenho 2 queimaduras
de cigarro no punho, uns rabiscos no outro, eu tenho as unhas pintadas e
frescas de uma garota de 19 anos, eu tenho mais peso do que eu deveria
ter, muito mais, eu tenho uma xícara de café frio do meu lado esquerdo
esperando para ser terminada, tenho uma marca roxa no olho e 3 nos
braços, lanhadas nas pernas de cintadas dadas num sexo legal. Eu to aqui
nessa varanda, quase me debruçando e tentando fazer mais uma merda mal
sucedida, eu to tentando deixar apenas o vento bater nos meus pés
suados, eu to tentando terminar o cigarro e logo em seguida eu acabo com
tudo isso, dou uma de egoísta e deixo todos pra trás. E enquanto eu to
aqui sentada nesse mármore frio que refresca a minha bunda, eu to
esperando um último empurrão.
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