Eu sou como um vaso de flores, porém quebrado, daqueles cuja terra
suja só fazia germinar pequenas flores murchas. Não sei dizer ao certo
quem me quebrou, se foram meus pais com seus gritos e preocupações, meus
professores com suas desaprovações ou mesmo aqueles que eu queria que
fossem meus amigos, mas não o foram. Depois de alguns anos com os meus
pedaços pelo chão, alguns artesãos disseram a minha mãe que poderiam
consertar-me, que colariam meus pedaços, adubariam minha terra e
então plantariam flores tão belas que ninguém jamais imaginaria em
quantos pedaços eu havia sido quebrada. Eles me consertaram sem ao menos perguntar se eu queria que o fizessem. As novas mudas que plantaram nunca cresceram, então decidiram
utilizar flores artificiais, bem como sorrisos e sonhos também
artificiais. Fui recriada em meio a frases decoradas e promessas vazias, assim eu era o
perfeito disfarce de garota normal. Alguns anos se passaram e os pedaços começaram a descolar. A medida
que um a um voltava para o chão eu me sentia mais leve, eu me
reencontrava. Ninguém viu meus pedaços caindo, eu estava em volta de uma
embalagem bonita e coberta de flores com cheiro de plástico, eu era uma
mentira agradável e é só isso que podiam ver. É a única coisa que eles
ainda veem.
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